sábado, 16 de maio de 2009

Miles Davis e o Velho do Metro.

Nessa última sexta feira cheguei em casa, preparei algo pra comer e liguei a tv num desses jornais que passam a noite, quase de madrugada. Entre várias delas surgiu a noticia sobre os 50 anos do disco de Miles Davis, “Kind of blue” e sobre um show comemorativo aqui em São Paulo com o baterista, o único vivo que estava na gravação desse disco. E algo me despertou interesse, o que tem de tão especial nesse disco?, porque ele se tornou inspiração pra tantos?, o que faz ele ser vendido assim?.
Resolvi ouvir e então me deparei com um sexteto, piano, contrabaixo, bateria, dois saxofones e o trompete de Miles Davis.
A musicalidade do grupo é inquestionável, o disco é basicamente batera, baixo e piano dando um apoio harmônico com o dois saxofones e o trompete que criam temas e improvisam em cima deles, com aparições do piano algumas vezes reforçando alguns temas ou improvisando como em “Freddy freeloader” ou “Blue and Green” Quando eu digo basicamente não pode ser entendido com simples, pois improvisar pelo menos no meu ponto de vista é muito difícil, improvisar bem.
O fato é que não conheço o suficiente pra postar opiniões sobre esse disco de Miles Davis, e sobre Jazz em geral, isso que estou escrevendo é só uma impressão de quem esta ouvindo o disco pela primeira vez, mesmo porque esse é o meu objetivo no blog mostrar minhas impressões, o que posso dizer pelo pouco que sei sobre música é que inquestionavelmente os instrumentistas que tocaram nesse disco são muito bons.
A princípio eu não ia escrever nada a respeito sobre o disco, pela minha falta de conhecimento jazzístico, mas ouvindo o disco me veio uma lembrança de algo recente e acho que relevante.
Fiz um intercâmbio de trabalho de férias com 2 amigos, Nicole e o Juliano, então saímos os 3 pra comemorar o nosso último dia em NY, fomos num bar na Times Square, conversamos a noite inteira, rimos, comemos, bebemos já em clima de despedida, moramos 3 meses juntos. No fim da noite fomos pra estação de Metro, logo que entramos vimos um velho sentado num banco com um o case aberto no chão do teclado que tocava no colo com uma mão, com a outra mão ele tocava seu trompete. Era um grande musico, era seguro ritmicamente, tinha um controle de dinâmica musical e muito expressivo. Em alguns momentos tive a impressão que ele entrava em transe curtindo seu próprio som, não notava a provocação de algumas pessoas que passavam do seu lado, talvez porque isso não o interessava, ele sabia que ali havia pessoas que paravam pra escutá-lo, entre esses estávamos nós, ficamos ali encostados nos pilares do metro ouvindo.
Ali tudo fez sentido, a música dele era a música daquela cidade, é o mesmo tipo de relação íntima que Woody Allen mostra com sua cidade no filme Manhattan, esse velho desconhecido mostrou a relação dele com a cidade através da musica, é como viajar pra Pernambuco e ver um grupo regional tocando maracatu, ou no interior de Minas e ver aquelas festas do divino espírito santo com musicas caipiras, é muito íntimo desses lugares, faz parte da geografia.
Por tudo isso achei importante escrever, não só pelos jazzistas famosos que merecem todo nosso respeito, porque eles são bons no que fazem e porque inspiram o mundo, mas também por aqueles que estão no metro de Nova York ou no sertão brasileiro e que fazem com prazer, música.

Um comentário:

  1. sentido sentido... é isso que importa no fim das contas!
    abraços!

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