quarta-feira, 17 de junho de 2009

A luz, as Cores e as Formas.

Acordei com o sol no rosto, estiquei o braço para tentar alcançá-la, mas parecia que a distancia era maior que de costume e não alcancei, como se o tamanho da cama tivesse aumentado muito e ela estivesse numa distancia próxima do infinito.
Criei coragem para enfrentar o sol e aos poucos abri os olhos, enfrentei , venci, mas logo me encantei com seus raios e a luz que só se encontra pela manha, no fim fui derrotado.
Olhei para o lado e descobri que a cama estava do mesmo tamanho, finita, e que na verdade ela não estava ali. Senti uma sensação estranha, sempre acordava antes dela, não me lembrava se isso já havia acontecido antes, por quase um segundo pensei se ela realmente existia. Que bobagem, pensei, acho que ainda estou dormindo.
Após os segundos em que passaram por mim estas sensações e pensamentos estranhos fui surpreendido por ela entrando no quarto. Passou pela porta, cruzou os braços, olhou para mim, sorriu e me deu um bom dia característico de quem acorda de bom humor. Então sentou –se na cama ao meu lado me deu um beijo, me perguntou se dormi bem, respondi que sim, mas uma vez percebi que algo diferente acontecia, ela estava com um humor radiante não me lembrava mais quando isso aconteceu pela última vez, eu estava confuso.
Perguntei o que aconteceu para que ela acordasse tão cedo num sábado, já que sempre acordava tarde. Ela me respondeu que não acordou. Como assim? respondi. Ué, quem não dorme não acorda, e abriu um sorriso. Mas você esta bem? To ótima. O que?, mas o que ta acontecendo, você ta bem?, Calma amor eu to bem, saiu do quarto como quem fosse buscar a resposta para minha aflição e voltou com ela nas mãos, uma tela. Pousou em cima da cama e perguntou, O que você acha? Perguntei sorrindo, o que é isso? Ela respondeu excitada, não consegui dormir a noite, tive que pintar isso, foi como uma compulsão, passei a noite inteira pintando e só parei quando achei que estava completo, depois ... depois fiquei olhando e admirando por horas, e ela olhava o quadro como uma mãe olha pro filho recém chegado.
Meus olhos voltaram-se para a tela, nela vi formas, texturas e cores que tinham uma combinação como nunca havia visto, quase tão belas quanto a luz do Sol. Comecei a contemplar cada detalhe e me encantava com cada traço, cada pincelada, podia ficar olhando para aquela tela por horas. O que tinha ali que me deixava extasiado?
Olhei para o rosto de minha mulher e percebi que aquilo que havia feito era extraordinário, como era talentosa, senti uma ponta de orgulho. Lembrei então que tinha estudado pintura por um tempo, acredito que um mês ou menos, tinha pintado umas telinhas mas nada especial, largou o curso, me disse que não havia gostado.
Voltei os olhos pra tela, a partir daí não conseguia mais desvincular ela da obra, tinha algo dela, tinha tudo dela. Fique de joelhos na cama e tentava desvendar nas manchas de tinta que juntas formavam imagens que mistérios aquela mulher que a tanto tempo eu achei que conhecia me mostrava. Eu admirava, procurava em cada detalhe da tela essa mulher maravilhosa, procurava desesperadamente e toquei a tela com a ponta dos dedos para tentar senti-la, em vão.
Levantei, fui em sua direção, olhei para seu rosto e analisava seus traços, era outra mulher? será que era a mesma e perdi tanto tempo de vida não percebendo isso? Senti uma felicidade que já não sentia a muito tempo, achei dentro de minha cabeça essa sensação, era a mesma que eu senti quando a conheci muitos anos atrás. Toquei seu rosto e ela sorriu, o sorriso mais lindo do mundo é dela, como passaram todos esses anos e deixei de notar esse sorriso?, como deixei de notar seu corpo, seus olhos, seu jeito e suas feições? a paixão voltou.
Eu admirava o quadro, admirava ela. Aquele quadro saia dela, do que era e tudo que viveu, por isso era tão bonito, era perfeito, era perfeita.
Descobri que não a conhecia por completo, e a partir dessa descoberta fiz a maior das descobertas, não quero conhecê-la para sempre redescobri-la.