Chegando na cidade Itatiaia, pegamos uma pequena rodovia federal que dava acesso a parte alta do parque uma estrada sinuosa e que subia infinitamente, perdemos a conta de quantas vezes cruzamos a divisa entre os estados de Minas, do Rio e São Paulo, estávamos nesse miolo. Depois de cerca de uma hora subindo, encontramos o alivio, porque podemos encontrar o alívio sim, na forma de placa indicando que estávamos no caminho certo, tínhamos que dobrar a esquerda numa estrada de terra, a pousada Alsene estava a 10 Km. Uma estrada com uma subida pesada cheia de pedras e uma areia fofa, onde muitas durante a noite tivemos que descer do carro empurrar, procurar galhos para apoiar a carro atolado no breu total, naquela noite nem a lua apareceu pra iluminar nosso caminho. O sol já apontava os primeiros raios no horizonte, quando chegamos numa ponte de onde pudemos ver um vale, a ali vimos a a floresta acordar com o raiar do sol, foi uma sensação incrível, que infelizmente não consigo explicar com palavras. Depois do espetáculo, voltamos pro carro e ali já sentíamos o frio da montanha.
Chegamos na pousada, e uma placa nos informava a altitude 2400 m, e nos espantamos quando vimos uns atletas correndo aquela hora da manha, descobrimos com a recepcionista da pousada que eram atletas que iriam passar um mês treinando naquela altitude para aumentar a eficiência numa maratona. Levamos muito tempo pra chegar, quase o dobro do tempo planejado, e ali montamos a barraca no camping e dormimos o sono dos justos.
Acordamos e a primeira coisa que lembro assim que abri a barraca foi da paisagem, estávamos acampados numa região plana de uma montanha debaixo de uma árvore, de lá era possível ver um vale no meio de muita neblina e uma pequena corredeira, uma visão realmente diferente, acho inclusive que se que se for verdade o que pregam que temos alma e que ela vai pra algum lugar depois da morte, esse lugar deve ser assim.
Depois de tudo acertado, descemos para as cidades vizinhas, retornamos na noite de sábado pro acampamento, só que no meio do caminho havia uma pedra, e essa pedra furou o pneu do carro. A noite, no escuro e na areia não foi fácil trocar um pneu mas conseguimos a tempo chegar no acampamento e conseguir dormir umas horas.
Acordamos, estávamos ansiosos, principalmente depois de encontramos o instrutor e ele dizer pro Adriano, você vai assim?, apontando para os pés dele que estava com um par de All Star, o que mostrou que não estávamos nada preparados pra subir. Mas como homens destemidos, resolvemos ir em frente. E ai descobrimos que não tínhamos nada para comer e nem beber o que era no mínimo necessário, porque a caminhada era longa e não bastasse isso, bem inclinada. No restaurante onde comemos o café da manhã resolvemos comprar umas frutas, que foi uma barganha de 20 reais, por 3 maças e seis bananas. Era nossa última opção, como diz o ditado abraçamos o capeta, de céu o lugar virou o inferno. Nessa altura da vida desistir depois de tudo que passamos não era a idéia, pensamos que o pior já tinha passado.
Começamos a caminhada, passamos o portão do Ibama assinamos uns termos de responsabilidade, e o instrutor nos disse para seguirmos numa estrada, e seguimos. No caminho conhecemos o flamenguinho, um pequeno sapo preto com as patas e o peito vermelho que só vive nesta região e nessa altitude.
Andamos por 40 minutos até a base do pico, ai o instrutor chegou de moto, o que criou uma certa inconformidade de alguns que talvez já estavam cansados e acho que queriam uma carona.
Depois de algumas horas de subida o vegetação vai se tornando muito escassa até não sobrar nada, a não ser uma espécie de planta que infelizmente esqueci o nome que consegue sobreviver a essas condições, era isso que estamos tentando fazer sobreviver a essas condições, nessa altura o vento já era muito forte o que exigia um pouco mais de concentração pra não ficar dando bobeira e sair voando.
Tomamos um banho, acertamos nossas coisas e paramos pra conversar no fim da tarde, quando olhamos pro lado vimos nossa barraca voando, os 3 saindo correndo atrás desta foi hilário, quanto mais nos aproximavamos mais o vento levava, mas nem tinhamos coisas importantes além de nossas carteiras com documentos, cartões de banco e nosso dinheiro. Conseguimos depois de muito custo recuperar a barraca antes dela voar pelo vale e se perder para sempre. Então nos despedimos do pessoal e tomamos o rumo de volta, todos satisfeitos, íamos jantar dormir e voltar de volta pra casa no outra dia a noite.
Você que conseguiu acompanhar até aqui pensa que acabou, pois é, mas naquela estrada tinha outra pedra, isso mesmo, fomos com o pneu furado até a estrada asfaltada pra pedir ajuda porque não tínhamos mais o estepe, começamos a pedir ajuda e lógico, ninguém parava. Até que começou a chover, ai completou nossa sorte ou a falta dela, pegamos um guarda chuva e revesávamos na beira da estrada pedindo ajuda no meio do temporal. Um senhor de bom coração resolveu parar, pegou nosso estepe e disse que voltaria em 30 minutos, entramos no carro com um alívio e uma certa esperança na humanidade, e ali ficamos parados e quietos sem som porque uma hora dessas gastar a bateria não seria legal pois sem bateria e sem combustível era algo que não podia acontecer, e nesse silencio alguém disse, “e se esse cara pegar o estepe e não voltar?”, surgiu um inicio de pânico. Mas o senhor de bom coração voltou com uns 32 minutos e esses 2 minutos de atraso foram um dos mais demorados da nossa vida. Mas tivemos a sorte de conhecer o senhor de bom coração o que mostra que temos que ter esperança na humanidade.
Depois de tudo isso com um duas bananas e uma maça no estomago, e a certeza que essas não estavam mais lá pela fome que sentiamos, fomos jantar, e de repente o 3 começam a passar mal encostam a cabeça na mesa, sentimos que estávamos com febre e o Adriano até vomitou, não sei o que, mas vomitou.
Chegou a comida, a principio não queríamos comer porque realmente estavamos mal, mas depois de umas garfadas o apetite voltou, quando terminamos de comer já estávamos bom, foi incrível, uma recuperação que pareceu mágica, o que prova que fome, além de uma doença doença social é física.
Essa viagem já faz 2 anos, fizemos outras e tivemos muitas histórias como essas e sempre tivemos bom humor par olhar pra trás e resolver o problemas das formas mais inusitadas , é isso ai, como sempre dizemos “Isso é da estrada” e Tamo viajano moçada!!!
Isso é uma prova que a comédia e o tragédia são muito ligados, o que é comédia? O que é tragédia? no fundo são as mesmas coisas vistas por pontos de vista diferentes.
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